Guardião é o título que se dá a certos superiores de conventos da ordem franciscana. São Francisco enaltecia a figura do guardião, pois amava a santa obediência. Não porque ele quisesse ser o guardião e assim poder mandar nos outros, mas pelo contrário, ele queria alguém para obedecer. E não importava pra ele quem fosse o seu guardião, ele obedeceria da mesma forma. Podia ser um velho frade ou um jovem noviço sem experiência nenhuma, ele obedeceria e honraria da mesma forma. Para praticar a verdadeira obediência, ele queria ter sempre um guardião. Há um ditado que diz: “Quem obedece não erra”. E Francisco não queria errar. Mas e se o seu guardião fosse um tirano ou se fosse alguém que mandasse ele fazer coisas erradas? Quanto mais desprezível for o que manda, dizia nosso seráfico Pai, maior deve ser a humildade de quem obedece. E por providência divina, aquele que obedece ao seu superior como obedeceria ao próprio Jesus, este recebe de Deus um guardião honrado, um guardião que pensa com Cristo, em Cristo e em Cristo e só age de acordo com a vontade de Deus. Perceberam caríssimos como não é preciso se preocupar em obedecer? Pode-se obedecer cegamente seu superior, pois por mais que ele enquanto ser humano seja desprezível, seja um homem cheio de pecados, Deus em sua infinita bondade ao ver que você é obediente e sua obediência é sincera, não vai permitir que seu guardião de ordens arbitrárias. Partindo deste princípio, suponho eu, que quanto mais você obedece de má vontade, carrancudo, sem alegria, sem enxergar no seu guardião a figura do próprio Senhor, mais Deus vai permitir que este guardião lhe incuba de tarefas pouco ortodoxas só para testá-lo e prová-lo na virtude da obediência.
Mas a grande questão que eu gostaria de levantar hoje, principalmente para os leigos é: a quem obedecer? Os frades menores tem seus guardiões, seus superiores. Nós da ordem franciscana secular temos o ministro de nossa fraternidade em primeiro grau, pois está mais próximo de nós, mas também temos o ministro do regional e do nacional e se tivermos a oportunidade de conhecer temos ainda o ministro geral que representa o grau máximo na ordem. Os ministros exercem um cargo de serviço como o próprio nome já diz. Eles se põem a serviço das fraternidades para ajudar a conduzir os irmãos dentro das diretrizes da OFS. E é à eles que devemos obediência. Mas e quanto aos leigos? No livro dos Atos dos apóstolos, capítulo cinco, versículos vinte e sete e seguintes vemos que Pedro ao ser apresentado ao conselho e interrogado pelo sumo sacerdote que o reprimia dizendo que já o havia alertado para não mais pregar em nome de Jesus, responde: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” Ora, o sumo sacerdote era a autoridade máxima do judaísmo. Pedro era judeu, não deveria ele obedecer ao seu superior? Acontece que Pedro sabia qual era a vontade de Deus. Pedro sabia que o sumo sacerdote estava errado e isso acontece muito em nossas paróquias. Os leigos acreditam que devem obedecer ao seu pároco em tudo. Como se tudo o que ele diz fosse lei. Mas você já parou pra pensar que o padre também erra? E que as vezes não convém obedecer para também você não compactuar com o erro? O leigo não tem um imediato. Não tem um guardião. Não tem um superior direto. Mas tem a Igreja. Se o padre é obediente à Igreja, aos ensinamentos do magistério, às encíclicas papais, aos concílios, você pode obedecê-lo de olhos fechados. Mas se o padre é meio “prafrentex”, quer inovar a missa, fazer tudo do jeito dele e você sabe, pois estudou os documentos da Igreja, você sabe, pois leu no catecismo e no código de direito canônico que aquilo que ele está propondo ou muitas vezes ordenando, não está de acordo com a doutrina da Igreja de dois mil anos, não precisa obedecer. Recorra ao bispo se for o caso. Ou até mesmo a Santa Sé. Só devemos obedecer a quem é obediente.
Que assim seja, amém. Paz e bem!
Rodrigo Hogendoorn Haimann, ofs