Os amigos de Francisco eram jovens alegres que só pensavam em curtir a vida. Com boa comida e bebida, talvez até mesmo na presença de belas mulheres. Não digo prostitutas. Nem mesmo mulheres vulgares como encontra-se por aí hoje em dia. Não. Isso não.
Se os amigos de Francisco se reuniam em tavernas, comiam e bebiam até se fartarem, ouvindo a música da época que logicamente era ao vivo, rindo, fazendo gracejos, na presença de belas mulheres que não eram tão santas para serem candidatas ao casamento, mas também não tão pervertidas como as jovens de hoje, podemos imaginar que ainda assim era uma diversão mais sadia do que o mundo oferece no nosso século.
Faz muito tempo que eu não saio a noite, em casa noturnas. Nunca gostei de baladas como se diz, mesmo quando era mais jovem. Sempre fui mais reservado. Muito seleto.
Mas nas raríssimas vezes que sai para acompanhar um amigo ou uma namorada, as lembranças que tenho são de lugares escuros, com muita fumaça e luzes que dão dores de cabeça. Pessoas estranhas. Bebidas, drogas, prostituição. Como eu poderia descrever? Talvez o inferno seja assim.
Os amigos de Francisco o elegeram como uma espécie de líder por ser de uma família abastada e ter além de condições financeiras para bancar a noitada pagando a conta, também um coração generoso para não negar-se a fazê-lo. Não era avarento.
A gente percebe que tem certas pessoas que tem um carisma. São carismáticas. Tem um espírito de liderança e se destacam. Eu arrisco dizer que o fato de Francisco ter dinheiro não era o único motivo para os seus amigos o fazerem líder. Ele tinha um carisma.
Talvez fosse o mais alegre. O mais brincalhão. Ou quem sabe o mais esperto. Fato é que alguma coisa ele tinha que fazia com que os outros o admirassem.
No meu tempo de escola eu também era assim. Não sei explicar. Mas tinha alguma coisa, um carisma, algo que fazia com que outros garotos de minha turma me seguissem, me apoiassem em meus projetos por mais absurdos que fossem. E eu sempre fui pobre.
E veja como Deus é maravilhoso. Ele usa às vezes determinadas características que nós temos e que nos são natas, mas que estamos usando de modo errado, para o bem.
O carisma que Francisco tinha de liderança que era usado para fazer festas na sua juventude, Deus usou para atrair irmãos de todos os cantos do mundo para a ordem fundada pelo Santo de Assis.
Há uma fase pela qual, creio eu, todos passamos. Quando somos tocados por Deus, mas ainda não nos desprendemos completamente do mundo. Aceitamos determinados convites para coisas que antes nos eram absolutamente normais, mas que agora perderam o brilho. Perderam o sentido. Pois na verdade foram ofuscadas por um brilho maior: Jesus.
E Francisco também sente-se assim. Os amigos cantando bêbados pelas ruas e ele vai se distanciando de corpo, pois de coração já estava bem distante.
A gente pode imaginar, as ruas escuras da Assis do século XIII. Os jovens andando abraçados, cambaleando. Bêbados. Alegres. Cantando. E Francisco aos poucos, ficando para trás.
Aos poucos se distanciando de tudo aquilo que já não fazia mais sentido para ir buscar aquilo que realmente interessa. Na minha cabeça, quando imagino a cena, e vejo aqueles jovens alegres cantando indo embora e deixando Francisco para trás, penso que ela continuaria assim: Francisco depois de algum tempo parado se voltaria para a direção contrária e aos poucos iria começar a caminhar nessa direção. Oposta à de seus amigos. E lá na frente, esperando por ele. De braços abertos. Estaria Jesus.
Que também nós possamos seguir o exemplo do pobrezinho de Assis. E mudar de direção. Isso é converter-se. Mudar de direção. Nada acontece da noite para o dia. São pequenos passos, pequenos gestos, pequenas atitudes que nos afastam das coisas do mundo e nos aproximam cada dia mais de Jesus.
Que assim seja,
Amém.
Rodrigo Hogendoorn Haimann, ofs